Tenho 3 monstros... quer dizer 3 filhos, sendo que um deles nasceu com Trissomia 21. E toda a gente diz: ai, que coragem, ter mais filhos, deve ser complicado ter uma criança assim...

Bahhhh... qual complicado... é cansativo, é absorvente mas não é complicado nem muito diferente de outra criança. Pois não. É melhor. Em muitas coisas é melhor.

Vejamos:

A Raquel, com T21, quero dizer com Trissomia 21, começou a comer sopa aos 4 meses. Fizemos até uma festa famíliar... deu a mãe, deu o pai e a avó Idália. A menina até vestiu um babygrow novo...

Depois da sopa veio a fruta, a sopa com carne, o peixe, iogurtes, muito raramente a papa e ela aceitou tudo bem. Com um ano a Raquel comia connosco nos restaurantes, sem queixas, aceitando qualquer comida, qualquer sopa. Com 2 anos, já há muito tempo a comer sozinha, comia japonês, marroquino, chinês, indiano. Picante, doce, salgado... fosse o que fosse. Dá prazer olhar para ela. Come com modos elegantes, usa o guardanapo. É delicioso.

O Pipo começou a comer sopa só aos 5 meses, não aceitava outra sopa que não fosse a minha. Foi um custo levá-lo ao restaurante....

Hoje já come... mas não come tudo...

Agora, o João, este magano, com 7 meses ainda come mal a sopa!

E tem de ser em casa. A fruta vomita! Iogurtes? Nem vê-los. E quer sempre mamar... depois da sopa é bom que eu lhe dê a mama... Ou então não se cala...

É razão, para dizer, como diz a minha sogra: Se tivesse o Sérgio nascido primeiro não tinha tido outro! Neste caso... se o João tivesse nascido primeiro não tinha tido mais nenhum...

Tenho de ir... o dever chama-me... só quero ver em Setembro quando o João for para o infantário.

Ai, ai, ai....

Xuac

Sofia

Andei aqui a pensar se isto tinha cabimento... o nascimento de uma criança nem é nada assim de tão especial.

Mas gostava de partilhar 3 momento que definiram a minha vida... 3 nascimentos, o da Raquel, o do Filipe e o do João. Tudo cesarianas, porque os putos são muito grandes e eu muito pequena.

O primeiro parto, foi um sonho tornado pesadelo. Num hospital excelente, pessoal especializado, tudo a correr bem e depois a bomba. Ainda consigo ouvir o meu médico a dizer "não se parece com a mãe" e a perguntar se eu tinha feito a amniocentese. A Raquel tinha nascido com Trissomia 21.

Isso transformou-me profundamente. Andei com a cabeça num limbo, a viver dia a dia sem quase sentir. Fiquei grávida outra vez, planeei essa gravidez para coincidir com o inicio da Raquel começar a andar e correu tudo bem... Mal soube que estava grávida fiquei coberta de psoríase, as pernas, mãos, costas, barriga, braços eram autenticas chagas. E como grávida responsável não fiz um único tratamento.

Durante o parto do Filipe só conseguia pensar se podia correr alguma coisa mal. E por isso nem sonho nem pesadelo. Foi só REAL.

Vio-o a nascer através da porta do armário...

Eu explico:

A porta do armário estava meio aberta e através do espelho consegui ver o médico a colocar as mãos e a tirá-lo dentro de mim, pelo corte da cesariana. Foi mesmo real!

E depois mais uma vez... fiquei sem o meu filho. A Raquel e o Pipo foram-me tirados para irem para a incubadora... a Raquel voltou no dia seguinte e o Pipo nesse mesmo dia, mas de noite pelas 23h.

Quando fiquei grávida do João desapareceu-me a psoríase em todo o corpo. Depois de 1 ano a fazer tratamento e de ter algumas melhoras foi só saber que estava grávida para numa semana ficar com a pele lisa, sem qualquer mancha.

O parto do João, também de cesariana, foi o terceiro e último. Entrei com a certeza que não ia ter mais filhos, mentalizada para lembrar o médico que era para fazer também uma laqueação de trompas. Pareceu-me horas a espera. Estava mal disposta, não cheguei a vomitar mas por pouco... e vi também o João a nascer pela porta do armário.

Quando fui para o recobro o João foi comigo e dei-lhe logo mama. Mas depois tiraram-mo também para ir, não para a incobadora como os outros mas só para, ser aquecido. Fiquei também preocupada, mas estava calma e quando à noite entrei no quarto depois de ter tomado banho nem me apercebi que ele já lá estava à minha espera.

Portanto, passei ao longo dos 3 partos de grande alegria a grande tristeza, para ansiedade e finalmente para um estado de calma e tranquilidade.

E isso é algo que sinto que teve impacto na maneira como sou hoje: sou uma pessoa de personalidade forte, que era propensa a momentos de alto e depois baixo, e alto e baixo. Depois fiquei ansiosa, grande stress, "mood swings". E agora tenho menos stress. Estou mais calma, não me chateio como antes me chateava... se há brinquedos no chão... paciência, a louça está suja... chatice... logo se lava.

O João acalma-me. Ri-se e eu rio-me também.

Um beijo,

Sofia